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Category Archives: Mario Vargas Llosa

O Fogo e a Fúria

23 Terça-feira Jan 2018

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Trump na Casa Branca/SAUL LOEB (AFP)

Como se fabrica um best-seller? Assim. A editora Henry Holt divulga um comunicado explicando que logo aparecerá o livro Fire and Fury (Fogo e Fúria) do jornalista Michael Wolff, que revela muitos segredos sobre Donald Trump na Casa Branca, e dá alguns exemplos particularmente escandalosos. De imediato o presidente Trump reage com a sua habitual virulência nos seus tuítes matutinos, e os seus advogados anunciam que recorrerão aos tribunais para evitar que esse libelo calunioso seja publicado. A editora antecipa a saída do livro para o dia seguinte. Eu estava em Miami e tratei de comprá-lo nesse mesmo dia. Impossível: em todas as livrarias da cidade esgotou-se em duas ou três horas. O dono da Books and Books, meu amigo Mitch, teve a bondade de me presentear o seu exemplar. A editora anunciou que a milionária segunda edição de Fire and Fury aparecerá em poucos dias. Deste modo, Trump e os seus advogados conseguiram que um livro sem mérito algum – um a mais entre dezenas publicados sobre o novo ocupante da Casa Branca – circule como pão quente por todo o mundo. E, de passagem, tornaram o seu autor milionário.

Fazia tempo que não lia algo tão triste e deprimente como a colecção de fofocas, revelações, intrigas, rancores, vilanias e estupidezes que o jornalista Michael Wolff reuniu no seu livro, depois de receber os depoimentos de umas trezentas pessoas vinculadas ao novo regime norte-americano. A se acreditar nele, a nova administração estaria composta de politiqueiros ignaros e intriguistas, que se juntam ou se tornam inimigos e se apunhalam numa luta frenética para ganhar posições ou defender as que já têm graças ao deus supremo, Donald Trump. Este é o pior de todos, claro, um personagem que pelo visto não leu um só livro na vida, nem sequer o que lhe escreveram para que o publicasse com o seu nome relatando os seus sucessos empresariais. A sua cultura provém exclusivamente da televisão; por isso, a primeira coisa que fez ao ocupar a Casa Branca foi exigir que colocassem três enormes telas de plasma no seu quarto, onde dorme sozinho, longe da bela Melania. A sua energia é inesgotável, e a sua dieta diária muito sóbria, feita de vários hambúrgueres com queijo e doze Coca-Colas diet. O seu asseio e o seu senso de organização deixam muito a desejar. Por exemplo: teve um ataque quando uma criada pegou uma camisa sua do chão, achando que estava suja. O presidente explicou-lhe que “se há uma camisa sua jogada no chão é porque ele quer que esteja no chão”. Revelações tão importantes como estas ocupam muitas das trezentas e vinte e duas páginas do livro.

Segundo Michael Wolff, ninguém, a começar pelo próprio Donald Trump, esperava que ele ganhasse a eleição de Hillary Clinton. A surpresa foi total e, consequentemente, a equipa de campanha não se havia preparado em absoluto para uma vitória. Daí o caos vertiginoso que a Casa Branca viveu com os seus novos ocupantes e do qual ainda não acabou de sair. Não só não havia um programa para levar à prática, tão pouco pessoas capazes de materializá-lo. As nomeações eram feitas às pressas, e o único critério para escolher as pessoas era o aval e o olfacto de Trump. As lutas intestinas paralisavam toda acção, já que a energia dos colaboradores se voltava mais para criar obstáculos ou destruir reais ou supostos adversários dentro do próprio grupo do que fazer frente aos problemas sociais, económicos e políticos do país. Isto tinha efeitos cataclísmicos na política internacional, em que os rompantes quotidianos do presidente ofendiam os aliados, violentavam tratados e, às vezes, tratavam com luvas de pelica e até elogios desmedidos os adversários tradicionais. Por exemplo: a Rússia de Putin, pela qual o mandatário parecia ter uma fraqueza quase tão grande como os seus preconceitos contra os mexicanos, haitianos, salvadorenhos e, em geral, todos os imigrantes procedentes desses “buracos de merda”. A ponto de o “mais famoso nazista norte-americano”, Richard Spencer, que se horrorizava por Jeb Bush se ter casado com uma mexicana, proclamar com entusiasmo que Trump é “um nacionalista e um racista, e o seu movimento é um movimento branco”.

Lendo O Fogo e a Fúria pareceria que a vida política dos Estados Unidos só atrai mediocridades irredimíveis, cegos ao idealismo e a toda intenção altruísta ou generosa, sem ideias nem princípios nem valores, ávidos por dinheiro e poder. Os bilionários desempenham um papel central nesta trama e, das sombras, mexem os pauzinhos que colocam em acção parlamentares, ministros, juízes e burocratas. O próprio Trump tem uma simpatia irresistível por eles, especialmente por Rupert Murdoch, embora neste caso não haja a menor reciprocidade. Pelo contrário, o magnata das comunicações nunca lhe ocultou o seu desdém.

Personagem central deste livro é Steve Bannon, o último chefe de campanha de Trump e, acreditava-se, o arquitecto da sua vitória. Também algo assim como “o teórico” do movimento. Católico praticante, oficial da Marinha por sete anos, colaborador e jornalista de publicações de extrema direita, como a Breitbart News, define-se como “um nacionalista populista”. Pensava mal, mas, pelo menos, nesta manada de iletrados, pensava. Dele viriam alguns dos cavalinhos de batalha de Trump: o muro para conter os mexicanos, pôr fim à ampliação da saúde pública que Obama conseguiu aprovar (o Obamacare), obrigar as fábricas expatriadas dos Estados Unidos a regressarem ao solo norte-americano, reduzir drasticamente a imigração, baixar os impostos das empresas e reconhecer Jerusalém como capital de Israel. Para sua desgraça, a revista Time colocou-o na capa e disse que ele era o presidente na sombra. Trump teve uma explosão de raiva descomunal e começou a marginalizá-lo, de modo que Bannon foi perdendo posições dentro do corpo dos escolhidos, ao mesmo tempo que a filha e o genro de Trump, Ivanka e Jared, as ganhavam, o iam debilitando e, no final, o despedaçaram. Expulso do paraíso o “ideólogo”, as ideias se eclipsaram na Administração e ao redor de Trump, e a política ficou reduzida ao exclusivo pragmatismo ou, em outras palavras, aos caprichosos e aos movimentos tácticos e retrácteis do presidente. Pobre país!

Embora eu acredite que a descrição feita por Michael Wolff seja exagerada e caricatural, e que ler seu livro é uma perda de tempo, infelizmente também há algo de tudo aquilo na presidência de Trump. É provável que jamais na sua história os Estados Unidos se tenham empobrecido política e intelectualmente tanto como durante esta Administração. Isso é grave para o país, mas é ainda mais para o Ocidente democrático e liberal, cujo líder e guia vai deixando de sê-lo mais a cada dia. Com as consequências previsíveis: China e Rússia ocupam as posições que os Estados Unidos abandonam, adquirindo uma influência política e económica crescente, e talvez imparável, em todo o Terceiro Mundo e em alguns países do Leste da Europa.

Mario Vargas Llosa, 2018, in El Pais/Brasil

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Vargas Llosa sobre García Márquez: “Não era um intelectual, funcionava mais como artista”

08 Sábado Jul 2017

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Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez, vistos por Fernando Vicente.

Na quinta-feira, 6 de julho, Mario Vargas Llosa (1936) conversou com o ensaísta colombiano Carlos Granés num curso dedicado à obra de Gabriel García Márquez (1927-2014). Durante uma hora, falaram da obra do autor de Cem Anos de Solidão e da amizade que uniu ambos os escritores desde que se conheceram, em 1967, até o rompimento, em 1976. Os trechos a seguir são parte dessa conversa.

Descoberta de um autor

Eu trabalhava em Paris, na Rádio Televisão Francesa; tinha um programa de literatura em que comentava os livros que eram lançados na França e que poderiam ter interesse na América Latina. Em 1966 chegou um livro de um autor colombiano: Pas de Lettre pour le Coronel. Era Ninguém Escreve ao Coronel. Eu gostei muito pelo realismo tão rigoroso, pela descrição tão precisa desse velho coronel que continua pedindo uma aposentadoria que nunca chegará. Impressionou-me muito conhecer esse escritor chamado García Márquez.

Romance a quatro mãos

Alguém nos colocou em contacto, eu não sei se fui eu o primeiro a escrever ou ele, mas tivemos uma correspondência bastante intensa com a qual fomos ficando amigos antes de nos conhecermos pessoalmente. A dado momento surgiu o projecto de escrever um romance a quatro mãos sobre uma guerra que houve entre o Peru e a Colômbia na região amazônica. García Márquez tinha muito mais informação do que eu sobre a guerra, nas suas cartas contava-me muitos detalhes, possivelmente muito exagerados para torná-los mais divertidos e pitorescos, mas esse projecto sobre o qual trocamos correspondência durante um bom tempo desapareceu. Teria sido muito difícil quebrar a intimidade do que cada um escrevia e mostrar isso diante do outro.

Amizade à primeira vista

Quando nos vimos pela primeira vez, no aeroporto de Caracas, em 1967, já nos conhecíamos e já tínhamos lido um ao outro, mas o contacto foi imediato, a simpatia recíproca e acho que ao sair de Caracas já éramos amigos. E quase, quase diria amigos íntimos. Depois estivemos juntos em Lima, onde fiz uma entrevista pública com ele na Universidade de Engenharia, um dos poucos diálogos públicos de García Márquez, que era bastante retraído e relutante em enfrentar o público. Detestava entrevistas públicas porque, no fundo, tinha uma enorme timidez, uma grande reticência a falar de improviso. O oposto do que era na intimidade, um homem extremamente loquaz, divertido, que falava com grande desenvoltura.

Devotos de Faulkner

Acredito que o que mais contribuiu para a nossa amizade foram as leituras: éramos grandes admiradores de Faulkner. Nessa correspondência que trocávamos falávamos muito de Faulkner, a maneira como nos colocou em contacto com a técnica moderna, com uma maneira de contar sem respeitar a cronologia, mudando os pontos de vista… O denominador comum entre nós eram essas leituras. Ele havia tido uma enorme influência de Virginia Woolf. Falava muito dela. Eu, de Sartre, que acho que García Márquez não tinha lido. Ele não tinha grande interesse pelos existencialistas franceses, muito importantes na minha formação. Por Camus acho que sim, mas ele tinha lido mais literatura anglo-saxónica.

Ser latino-americanos

Ao mesmo tempo, nós dois estávamos a descobrir que éramos escritores latino-americanos, mais do que peruanos ou colombianos, que pertenciam a uma pátria comum que até então conhecíamos pouco, com a qual ainda tínhamos pouca identificação. A consciência de que existe hoje uma América Latina como uma unidade cultural praticamente não existia quando éramos jovens. Isso começou a mudar depois da revolução cubana, o facto central que despertou a curiosidade do mundo pela América Latina. Ao mesmo tempo, essa curiosidade fez com que se descobrisse que havia uma literatura inovadora.

Cuba e o ‘caso Padilla’

García Márquez já havia passado por um processo semelhante, só que com muito mais sensatez, de certo desencanto com a revolução cubana. Ele foi a Cuba para trabalhar na agência Prensa Latina, como Plinio Apuleyo Mendoza, seu grande amigo. Trabalharam lá enquanto a Prensa Latina mantinha certa independência em relação ao Partido Comunista. Mas o Partido Comunista, de uma maneira que não chegava à opinião pública, colocou-se como objectivo a captura da Prensa Latina. Quando a capturou, tanto Plinio como ele foram expurgados. Para García Márquez isso foi um choque pessoal e político. Ele manteve uma enorme discrição sobre esse assunto, mas quando o conheci, eu era um grande entusiasta da revolução cubana e ele muito pouco, inclusive adoptava uma posição um pouco zombeteira, como dizendo: “rapazinho, espere, você vai ver!”. Essa era a atitude que ele tinha em privado, não em público. Quando aconteceu o caso Padilla, em 1971, ele já não estava mais em Barcelona, não sei se foi uma saída temporária ou definitiva, não me lembro, mas lembro que quando prenderam Padilla e o levaram preso sob a acusação de ser agente da CIA, fizemos uma reunião na minha casa, em Barcelona, com Juan e Luis Goytisolo, Castellet e Hans Magnus Enzensberger para fazer uma carta de protesto pela captura de Padilla. Nessa carta – assinada por muitos intelectuais – Plinio disse que devíamos colocar o nome de García Márquez e nós dissemos que era preciso consultá-lo. Eu não podia fazer isso porque não sabia onde ele estava naquele momento, mas Plinio decidiu colocar a assinatura assim mesmo. Pelo que soube, García Márquez protestou energicamente com Plínio. Eu não tive mais contacto com ele. Depois de Padilla ter saído do calabouço, depois de acusá-lo e todos os que o tinham defendido de serem agentes da CIA – um absurdo – fizemos uma segunda carta de protesto que ele já não quis assinar. Depois disso a posição de García Márquez contra Cuba mudou totalmente: ele se aproximou muito, começou a ir novamente – não tinha retornado desde que o expurgaram – e a aparecer em fotos com Fidel Castro, a manter essa relação – que continuou até o fim – de grande proximidade com a revolução cubana.

Amigo de Fidel Castro

Não sei exactamente o que aconteceu, depois do caso Padilla não tive mais nenhuma conversa com ele. A tese de Plinio é que, apesar de saber que muitas coisas iam mal em Cuba, García Márquez achava que a América Latina deveria ter um futuro socialista e que, de qualquer modo, mesmo que muitas coisas em Cuba não estivessem funcionando como deveriam, Cuba era uma espécie de aríete que estava rompendo o imobilismo histórico da América Latina, que apoiar a revolução cubana era apoiar o futuro socialista da América Latina. Eu sou menos optimista. Acredito que García Márquez tinha um sentido muito prático da vida, que descobriu naquele momento fronteiriço, e percebeu que era melhor para um escritor estar com Cuba do que estar contra Cuba. Livrava-se da surra que recebemos todos os que adoptamos uma postura crítica. Estando do lado de Cuba podia fazer o que quisesse, jamais seria atacado pelo inimigo verdadeiramente perigoso para um escritor, que não é a direita, mas a esquerda. A esquerda é que tem o grande controle da vida cultural em todo lugar e, de certa forma, antagonizar-se com Cuba, criticá-la, significava arranjar um inimigo muito poderoso e passar a ter de se explicar a todo o momento, provando que não era agente da CIA, reaccionário, ou pró-imperialista. Minha impressão é que, de certa forma, a amizade com Cuba, com Fidel Castro, o vacinou contra todas essas contrariedades.

‘Cem Anos de Solidão’

Fiquei fascinado com Cem Anos de Solidão, tinha gostado de ler as suas obras anteriores, mas ler Cem Anos de Solidão foi uma experiência fascinante. Achei o romance magnífico, extraordinário. Assim que terminei de ler, escrevi um artigo com o título “Amadís na América”. Naquela época, eu era um entusiasta dos romances de cavalaria e achei que, enfim, a América Latina tinha encontrado o seu grande romance de cavalaria em que prevalecia o elemento imaginário sem que desaparecesse o substrato real, histórico, social, que tinha essa mistura insólita. Essa minha impressão foi compartilhada por um público muito grande. Entre outras características, Cem Anos de Solidão tinha o abc de poucas obras-primas, a capacidade de ser um livro cheio de atractivos para um leitor refinado, culto e exigente ou para um leitor absolutamente elementar que só acompanha o enredo e não se interessa nem pela língua nem pela estrutura. Não só comecei a escrever comentários sobre a obra de García Márquez, mas também a ensinar García Márquez. O primeiro curso que dei foi de um semestre em Porto Rico. Depois na Inglaterra e finalmente em Barcelona. Dessa maneira, sem que eu me propusesse a isso, com as anotações que fiz nesses cursos foi surgindo o material que terminou no livro História de um Deicídio.

Gabito e o ano perdido

García Márquez leu História de um Deicídio, sim. Disse que o seu exemplar estava cheio de anotações e o enviaria a mim. Nunca enviou. Tenho uma história curiosa com esse livro. Os dados biográficos foram informados por ele e eu acreditei, mas numa viagem em navio para a Europa parei num porto colombiano e ali estava toda a família de García Márquez, entre eles o pai, que me perguntou: “E por que você mudou a idade de Gabito?” “Eu não mudei a idade. É a que ele me disse”, respondi. “Não, você diminuiu um ano, ele nasceu um ano antes”. Quando cheguei a Barcelona contei o que o pai dele me havia dito e se incomodou muito, tanto que mudei de assunto. Não podia ser brincadeira de García Márquez.

Poeta, não intelectual

Era extraordinariamente divertido, um óptimo contador de casos, mas não era um intelectual, funcionava mais como artista, como poeta, não estava em condições de explicar intelectualmente o enorme talento que tinha para escrever. Funcionava à base de intuição, instinto, palpite. Essa disposição tão extraordinária que tinha para acertar tanto com os adjectivos, com os advérbios e sobretudo com a trama e a matéria narrativa não passava pelo conceitual. Naqueles anos em que fomos tão amigos eu tinha a sensação de que muitas vezes ele não era consciente das coisas mágicas, milagrosas que fazia ao compor as suas histórias.

‘O Outono do Patriarca’

Não gostei. Talvez seja um pouco exagerado dizer assim, mas achei uma caricatura de García Márquez, como se estivesse imitando a si mesmo. O personagem não me parece nada verossímil. Os personagens de Cem Anos de Solidão, ao mesmo tempo que são desenfreados e além do possível, são sempre verossímeis, o romance tem a capacidade de torná-los verossímeis dentro do seu exagero. Ao contrário, o personagem do ditador me pareceu muito caricatural, um personagem que era como uma caricatura de García Márquez. Além disso, acho que a prosa não funcionou, que nesse romance ele tentou um tipo de linguagem muito diferente da que tinha utilizado nos romances anteriores e não deu certo. Não era uma prosa que dava verossimilhança e persuasão à história que contava. De todos os romances que ele escreveu acho esse o mais fraco.

O poder

García Márquez tinha um enorme fascínio pelos homens poderosos. O seu fascínio não só era literário, mas também vital, um homem capaz de mudar as coisas pelo poder que tinha lhe parecia uma figura enormemente atraente, fascinante. Identificava-se muitíssimo com aqueles poderosos que tinham mudado o seu entorno graças ao seu poder, no bom sentido e no mau sentido. Acho que um personagem como Chapo Guzmán teria fascinado García Márquez, tenho certeza de que, para ele, criar um personagem como Chapo Guzmán ou Pablo Escobar seria tão absolutamente fascinante como Fidel Castro ou Torrijos.

O futuro

García Márquez será lembrado somente por Cem Anos de Solidão ou sobreviverão também os seus outros contos e romances? Isso infelizmente não temos como saber, não sabemos o que vai acontecer dentro de 50 anos com os romances dos escritores latino-americanos, é impossível saber, são muitos os factores que intervêm nas modas literárias. Acredito que o que se pode dizer de Cem Anos de Solidão é que vai ficar, pode ser que a obra passe longos períodos esquecida, mas em algum momento ressuscitará e voltará a ter a vida que os leitores dão a um livro literário. Nessa obra há riqueza suficiente para ter essa segurança. Esse é o segredo das obras-primas. Estão aí, podem ficar enterradas, mas só temporariamente porque, a dado momento, algo faz com que essas obras voltem a falar com um público e voltem a enriquecê-lo com aquilo que enriqueceu os seus leitores no passado.

Rompimento

Voltou a ver García Márquez? Não, nunca… Estamos entrando em terrenos perigosos, acredito que é o momento de pôr fim a esta conversa [risadas]. Como recebeu a notícia da morte de García Márquez? Com pena certamente. É uma época que acaba, como com a morte de Cortázar ou a de Carlos Fontes. Eram escritores magníficos, mas também foram grandes amigos, e o foram num momento no qual a América Latina chamou a atenção do mundo inteiro. Como escritores, vivemos um período em que a literatura latino-americana era uma credencial positiva. Descobrir que, de repente, sou o último sobrevivente dessa geração e o último que pode falar em primeira pessoa dessa experiência é algo triste.

Extraido do El Pais/Brasil

O novo inimigo: populismo

06 Segunda-feira Mar 2017

Posted by mozrealblog in Democracia, Mario Vargas Llosa, Populismo, Sem categoria

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Populismo_novo_inimigo+fernando_vicente

-Fernando Vicente

O principal inimigo da democracia liberal – da liberdade – já não é o comunismo, mas o populismo. O primeiro deixou de ser quando a União Soviética desapareceu, por sua incapacidade de resolver os problemas económicos e sociais mais elementares, e quando (pelos mesmos motivos) a China se transformou num regime capitalista autoritário. Os países comunistas que sobrevivem – Cuba, Coreia do Norte e Venezuela – encontram-se num estado tão calamitoso que dificilmente poderiam ser um modelo, como parecia ser o caso da URSS, para tirar uma sociedade da pobreza e do subdesenvolvimento. O comunismo é agora uma ideologia residual, e os seus seguidores, grupos e grupelhos, estão à margem da vida política das nações.

Mas, ao contrário do que muitos de nós pensávamos – que o desaparecimento do comunismo reforçaria a democracia liberal e a estenderia pelo mundo –, surgiu a ameaça populista. Não se trata de uma ideologia, e sim de uma epidemia viral – no sentido mais tóxico da palavra – que ataca igualmente os países desenvolvidos e os atrasados, adoptando máscaras diversas para cada caso, do esquerdismo no Terceiro Mundo ao direitismo no Primeiro. Nem sequer os países de tradições democráticas mais arraigadas, como Grã-Bretanha, França, Holanda e Estados Unidos, estão vacinados contra essa doença. Provas disso são o triunfo do Brexit [a saída do Reino Unido da União Europeia], a presidência de Donald Trump, a liderança da formação de Geert Wilders – o Partido da Liberdade (PVV) – nas pesquisas para as próximas eleições holandesas e da Frente Nacional de Marine Le Pen nas francesas.

O que é o populismo? Acima de tudo, uma política irresponsável e demagógica de governantes que não hesitam em sacrificar o futuro de uma sociedade por um presente efêmero. Por exemplo, estatizando empresas, congelando os preços e aumentando os salários, como fez no Peru o presidente Alan García durante o seu primeiro mandato, gerando uma bonança momentânea que disparou a sua popularidade. Depois viria uma hiperinflação que esteve a ponto de destruir a estrutura produtiva de um país, empobrecido por tais políticas de maneira brutal. (Aprendida a lição à custa do povo peruano, Alan García desenvolveu uma política bastante sensata no segundo mandato).

Um ingrediente central do populismo é o nacionalismo, fonte, depois da religião, das guerras mais mortíferas que se abateram sobre a humanidade. Trump promete aos eleitores que a “América será grande de novo” e que “voltará a ganhar guerras”; os EUA já não serão explorados pela China, pela Europa ou por qualquer país, porque agora os seus interesses prevalecerão sobre os de todas as nações. Os partidários do Brexit – eu estava em Londres e ouvi, estupefacto, a saraivada de mentiras chauvinistas e xenofóbicas propalada na TV por pessoas como Boris Johnson e Nigel Farage, o líder do Partido da Independência do Reino Unido (UKIP) durante a campanha – ganharam o referendo proclamando que, ao sair da UE, o Reino Unido teria de volta a soberania e a liberdade, agora submetidas aos burocratas de Bruxelas.

Inseparável do nacionalismo é o racismo, que se manifesta sobretudo procurando bodes expiatórios, culpando-os de tudo o que dá errado no país. Actualmente, os imigrantes negros e os muçulmanos são as vítimas do populismo no Ocidente. Os mexicanos, por exemplo, foram acusados pelo presidente Trump de serem estupradores, ladrões e narcotraficantes. Já os árabes e africanos são acusados por Geert Wilders na Holanda e Marine Le Pen na França, ou mesmo por Viktor Orbán na Hungria e Beata Szydlo na Polônia, de roubar o trabalho dos nativos, abusar da seguridade social e degradar a educação pública, entre outras coisas.

Na América Latina, os Governos de Rafael Correa no Equador, do comandante Daniel Ortega na Nicarágua e de Evo Morales na Bolívia se orgulham de serem anti-imperialistas e socialistas, mas, na verdade, são a própria encarnação do populismo. Os três são cautelosos na hora de aplicar as receitas comunistas de nacionalizações em massa, colectivismo e estatismo econômico, pois, com melhor olfacto que o do iletrado Nicolás Maduro, sabem que tais políticas provocam desastres. Apoiam Cuba e Venezuela em voz alta, mas não as imitam. Praticam, mais propriamente, o mercantilismo de Putin (ou seja, o capitalismo corrupto dos cúmplices), estabelecendo alianças mafiosas com empresários servis, que são favorecidos com privilégios e monopólios, desde que sejam submissos ao poder e paguem as comissões adequadas. Todos eles consideram, como o ultraconservador Trump, que a imprensa livre é o pior inimigo do progresso e criaram sistemas de controle, directo ou indirecto, para solapá-la. Nisso Correa foi mais longe que qualquer outro: aprovou a lei de imprensa mais antidemocrática da história da América Latina. Trump ainda não aprovou a sua, pois a liberdade de imprensa é um direito profundamente arraigado nos EUA, e um acto dessa natureza provocaria uma enorme reacção negativa das instituições e da população. Mas não se pode descartar que, mais cedo ou mais tarde, ele tome medidas que – como na Nicarágua sandinista e na Bolívia de Morales – restrinjam e desnaturalizem a liberdade de expressão.

O populismo tem uma tradição muito antiga, embora nunca tenha alcançado a magnitude actual. Uma das maiores dificuldades para combatê-lo é que apela aos instintos mais puros dos seres humanos: o espírito tribal, a desconfiança e o medo do outro – seja de raça, língua ou religião diferente –, além da xenofobia, do patriotismo exagerado, da ignorância. Observamos isso de maneira dramática nos EUA de hoje. A divisão política no país nunca foi tão grande, e a linha divisória jamais foi tão clara: de um lado, toda a América culta, cosmopolita, educada, moderna; do outro, a mais primitiva, isolada, provinciana, que vê com desconfiança ou pânico a abertura de fronteiras, a revolução das comunicações, a globalização. O populismo frenético de Trump a convenceu de que é possível parar o tempo, retroceder a esse mundo supostamente feliz e previsível, sem riscos para os brancos e cristãos, que foram os EUA dos anos cinquenta e sessenta. Despertar dessa ilusão será traumático e, infelizmente, não só para o país de Washington e Lincoln, mas também para o resto do mundo.

Pode-se combater o populismo? Claro que sim. É o caso dos brasileiros que fazem uma formidável mobilização contra a corrupção. Dos norte-americanos que resistem às políticas demenciais de Trump. Dos equatorianos que acabam de impor uma derrota aos planos de Correa, votando por um segundo turno que poderia dar a vitória a Guillermo Lasso, um democrata genuíno. E dos bolivianos que derrotaram Morales no referendo com o qual pretendia se reeleger por séculos. Também dão exemplo os venezuelanos que, apesar da selvagem repressão da ditadura narcopopulista de Maduro, continuam lutando pela liberdade. Mas a derrota definitiva do populismo, como aconteceu com o comunismo, será fruto da realidade, do fracasso traumático de políticas irresponsáveis que agravarão todos os problemas sociais e econômicos dos países ingênuos que se renderam ao seu feitiço.

Por Mario Vargas Llosa, in El Pais/Brasil

Mario Vargas Llosa: Circo e jornalismo

06 Domingo Mar 2016

Posted by mozrealblog in Corrupção, Criminalidade, Droga, El Chapo Guzman, El Pais, Espanha, Estados Unidos, Fidel Castro, Hugo Chavez, Mario Vargas Llosa, Mexico, Michael Moore, Narco Trafico, Oliver Stone, Sean Penn, Sem categoria

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Uma das profissões mais perigosas no mundo de hoje é o jornalismo. Todos os anos aparecem, nos balanços das agências especializadas, dezenas de repórteres, entrevistadores, fotógrafos e colunistas sequestrados, torturados ou assassinados por fanáticos religiosos e políticos, ditadores, quadrilhas de criminosos e traficantes ou donos de impérios econômicos que veem a existência de uma imprensa independente e livre como uma ameaça aos seus interesses.

Este contexto explica, sem dúvida, a indignação causada pela entrevista realizada pelo actor Sean Penn com o assassino e narcotraficante mexicano El Chapo Guzmán – cuja vertiginosa fortuna o levou a figurar entre os homens mais ricos do mundo segundo a revista Forbes –, pouco antes de este ser capturado pela infantaria da Marinha do México. A entrevista, publicada na revista Rolling Stone, é péssima, uma exibição de egolatria desenfreada e palhaça e, ainda por cima, transbordante de simpatia e compreensão pelo multimilionário e desumano criminoso a quem são atribuídas quase 3.000 mortes além de incontáveis delitos, entre elas um grande número de estupros.

Sean Penn é óptimo actor e tem fama de “progressista”, termo que, em se tratando de gente de Hollywood, costuma significar um irresistível fraco por ditadores e tiranetes terceiro-mundistas. Foi algo demonstrado por Maite Rico num magnífico artigo (“Fascinação eterna pelo déspota”, publicada pelo EL PAÍS no dia 17) em que recorda os ditirambos do actor (e de Michael Moore e Oliver Stone) a Fidel Castro e a Hugo Chávez: “Uma das forças mais importantes que já tivemos neste planeta”, “líder fascinante”, “tenho amor e gratidão por ele”, etc.. Como explicará o actor, então, que nas últimas eleições 70% dos eleitores venezuelanos tenham repudiado o regime chavista de maneira tão categórica? Provavelmente, nem tomou conhecimento disso.

O caso de Sean Penn só se entende pela extraordinária frivolidade que polui a vida política do nosso tempo, em que as imagens substituíram as ideias, e a publicidade determina os valores e desvalores que movem grandes sectores dos cidadãos. Elogiar Fidel Castro, “o homem mais sábio do mundo” segundo Oliver Stone, é uma patética exibição de cinismo e ignorância, equivalente a sentir admiração por Stálin, Hitler, Mao, Kim Il-sung ou Robert Mugabe, e defender como modelo uma ditadura de mais de meio século que transformou Cuba numa prisão da qual os cubanos buscam de escapar do jeito que for, inclusive desafiando os tubarões. E não é menos do que isso considerar como astro político planetário o comandante Hugo Chávez, cujo regime transformou a Venezuela num país pobre, violento e reprimido, onde os níveis de vida caem mais a cada dia por culpa de uma inflação galopante –a mais alta do mundo– e onde a corrupção e o narcotráfico se enquistaram no próprio coração do Governo.

Como é cômodo para estes personagens, a partir de Hollywood, ou seja, da segurança jurídica – ninguém irá lá privá-los das suas casas, negócios e investimentos, nem exigir satisfações pelo que dizem e escrevem –, do conforto e da liberdade de que gozam, brincar de serem “progressistas”, aceitando convites de sátrapas ineptos, que os tratam como reis e os adulam, os lisonjeiam e presenteiam, e defender regimes opressores e brutais, que fazem viver no medo, na escassez e na mentira milhões de cidadãos privados da palavra e dos mais elementares direitos. Agora, além de ditadores, os “progressistas” de Hollywood defendem também delinquentes comuns e assassinos em série, como o Chapo Guzmán, pobre homem que, segundo Sean Penn, chegou ao delito porque era a única maneira de sobreviver num mundo atrofiado pela injustiça e pelos oligarcas.

O jornalismo, infelizmente, é também uma das vítimas da civilização do espectáculo dos nossos dias, onde aparecer é ser, e a política, a própria vida, se tornou mera representação. Utilizar esta profissão para se promover e difundir ideias frívolas, banalidades ridículas e mentiras políticas flagrantes é também uma maneira de ofender um ofício e todos os profissionais que fazem verdadeiros milagres para cumprir a sua função de informar a verdade, por salários geralmente modestos e correndo grandes perigos. Gente como Sean Penn, Oliver Stone e congêneres nem sequer notam que a sua atitude revela um desdenhoso preconceito pela Venezuela, Cuba, México e o Terceiro Mundo em geral, com essa duplicidade que ostentam quando elogiam e promovem para esses países sistemas e ditadores que não tolerariam jamais no seu próprio país, muito parecidos nisso a um Gunther Grass, que, nos anos oitenta, pedia que os latino-americanos seguissem o “exemplo de Cuba”, enquanto na Alemanha ele defendia a social-democracia e combatia o modelo comunista.

Claro que a minha crítica a atrevidos irresponsáveis como Sean Penn não significa que eu acredite que os actores devem prescindir de fazer política. Justamente pelo contrário, estou firmemente convencido que a participação no debate público, na vida cívica, é uma obrigação moral da que ninguém deve sentir-se exonerado, sobretudo se não estiver satisfeito com a sociedade e o mundo em que vive. E acredito que esta obrigação é ainda maior quando um cidadão – como é o caso dos cineastas em questão – é mais conhecido e tem, portanto, maiores possibilidades de chegar a um amplo público. Mas, por isso mesmo, é indispensável que essa participação esteja fundada num conhecimento sério dos assuntos sobre os quais opina.

A este respeito, gostaria de citar a resposta que outro norte-americano, este sim bem informado e honesto, o escritor Don Winslow, deu ao artigo de Sean Penn. O seu texto pode ser consultado no site deadline.com. Winslow, que há 20 anos investiga os cartéis da droga mexicanos e publicou um livro premiado sobre esse tema, The Cartel, recorda todos os jornalistas que foram mutilados e assassinados por terem investigado sobre o Chapo Guzmán. E se surpreende de que, em vez de perguntar ao chefe por que, logo depois da sua primeira fuga da prisão, em 2001, ele desatou essa “guerra de conquista” para desalojar outros cartéis, que causou mais de cem mil assassinatos. Outras perguntas que Sean Penn não fez: quantos milhões de dólares El Chapo gastou comprando juízes, políticos e policiais, a razão pela qual decidiu assinar um acordo de colaboração com a organização sádica e homicida dos Zetas, e por que aceitava que os seus serviçais levassem meninas púberes à sua cela nos períodos que passou na prisão. Winslow também lamenta, entre outras coisas, que Sean Penn não tenha formulado uma só pergunta ao Chapo Guzmán, nas sete horas de diálogo com ele, sobre as 35 pessoas (12 mulheres entre elas) que mandou assassinar, acusando-as de trabalharem para os Zetas, antes de fazer as pazes com essa terrível quadrilha.

As razões pelas quais Sean Penn não perguntou nada de incômodo ao Chapo Guzmán nós sabemos de sobra: ele foi entrevistá-lo com as respostas do assassino já fabricadas pela sua própria frivolidade ou cinismo: apresentá-lo como a vítima de um sistema (um herói, de certa forma) econômico e político que os seus admirados Fidel Castro e Chávez começaram a liquidar. E reforçar com isso a sua merecida fama de “progressista”, além de actor famoso e milionário.

Por Mario Vargas Llosa (El Pais)

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